Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante.
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Rio de Janeiro, 1951
in Novos Poemas (II)
m Livro de Sonetos
in Poesia compfeta e prosa: "Poesia varia"
ANÁLISE DO POEMA
O eu-lírico refere-se à sua realidade interior, confessando seus sentimentos. Dirige-se à pessoa amada. Aqui não se conta nenhuma história, é simplesmente a confissão de sentimentos íntimos. É um soneto lírico, pois fala do amor, dos sentimentos do poeta. Não há enredo, nem desfecho. Há dois aspectos a se destacar: o aspecto material e o espiritual do amor. O aspecto material do amor percebe-se quando o poeta o emprega como um bicho, como desejo maciço (3ª estrofe), já no aspecto espiritual do amor aparece como um amor amigo e em relação ao corpo (1ª, 2ª e 4ª estrofe). Analisando o poema por inteiro vemos que o poeta exalta mais o amor espiritual do que o “animal”, pois somente em uma estrofe percebe-se o valor do instinto.
Quanto aos aspectos formais do poemas pode-se perceber que é um soneto pois é constituído de dois quartetos e dois tercetos. Há a presença da rima nas palavras
Cante / amante / prestante / instante/ simplesmente / permanente / de repente
Verdade / realidade / saudade / liberdade / virtude / amiúde / pude
As rimas podem ser classificadas como encadeadas , um recurso utilizado para uma possível memorização do poema, para uma musicalidade e talvez, até para acentuar os termos verdade, liberdade, saudade e virtude. Todos os versos são decassílabos, isto é, são versos que contém dez sílabas. Lembre-se que as sílabas dos versos não são exatamente como as sílabas das palavras. Elas são contadas mais como são pronunciadas e há quase sempre a junção de vogais átonas. É impossível saber exatamente como o poeta escandiu os versos e que licenças poéticas usou. Então fazemos mais ou menos a escansão dos versos conforme a teoria literária.
Observe a sugestão de sílabas...
A / mo / te / tan / to / meu / a / mor / não / can
O hu / ma / no / co / ra / ção / com / mais / ver / da
A / mo / te / co / mo a / mi / go e / co / mo a / man
Nu / ma / sem / pre / di / ver / sa / rea / li / da
A / mo / te a / fim / de um / cal / mo a / mor / pres / tan
E / te a / mo a / lém / pre / sen / te / na / sau / da
A / mo / te en / fim / com / gran / de / li / ber / da
Den / tro / da e / ter / ni / da / de e a / ca / da ins / tan
A/ mo / te / co / mo um / bi / cho / sim / ples / men
De um / a / mor / sem / mis / té / rio e / sem / vir / tu
Com um / de / se / jo / ma / ci / ço e / per / ma / nen
E / de / te a / ma / r a / ssim/ mui / to e a / mi / ú
É / que um / dia / em / teu / cor / po / de / re / pen
Hei / de / mo / rrer / de a / mar/ mais / mais / do / pu
Fonte: Pérolas da Pi